Mutismo seletivo

Olá! Tudo bem com vocês?

Neste post venho falar sobre o mutismo seletivo. Você já ouviu falar sobre isso?

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Fonte da imagem: Google Imagens

Algumas pessoas podem ter ouvido dizer sobre esse transtorno, que inclusive está no DSM IV que é o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, como se fosse um CID médico, só que psiquiátrico e que atinge em média 2% das crianças hoje em dia e a maioria dos pacientes são meninas.

É descrito como uma desordem psicológica mais frequente nas crianças. Crianças e adultos com o transtorno são capazes de falar e compreender a linguagem, mas não o fazem em certas situações sociais, quando é o que se espera deles. Funcionam normalmente em outras áreas do comportamento e aprendizagem, mas se privam severamente de participar em atividades em grupo. É como uma forma extrema de timidez, mas a intensidade e a duração a distinguem.

As causas podem se dar por  predisposição genética, a maioria das crianças que sofrem do mutismo apresentam uma predisposição genética a experimentar sintomas de ansiedade que é exacerbada por condições estressantes ou hostis,  por  traços de temperamento, como: vergonha, timidez, preocupações excessivas, evitação social,  medo, apego e negativismo e  interações familiares, existe um consenso de que o mutismo é mantido na presença de características  familiares, tais como: relação simbiótica, dependente e controladora entre mãe e filho, mães deprimidas e passivas.

Nesses 22 anos de profissão foram raras vezes que vivenciei a situação de ter alunos que apresentavam essa característica, mas conversando com especialistas de capacitação da educação especial do munícipio que atuo, ela me informou que de maneira geral, eu vou “semear” e outro irá “colher os frutos”, ou seja, vou trabalhar no sentido de que a criança consiga se expressar verbalmente, mas na maioria das vezes, não vou ver ela falando, mas talvez, a professora do outro ano irá ver a criança falando normalmente por estar mais habituada com a rotina da escola e com os colegas.

E, realmente, em uma das turmas que tive havia duas irmãs gêmeas que sofriam com esse distúrbio. Cheguei para trabalhar em agosto depois da minha licença maternidade e via as meninas quietas, sem conversar, nem entre si… Fazia roda de música, fazia roda de conversa, chamava individualmente, conversava com a mãe (que me mostrava diversos vídeos das duas brincando, rindo, conversando muito…), mas na escola nada… Utilizamos a estratégia do telefone. Liguei na casa delas e conversei por telefone com as duas… Porém na escola continuaram da mesma forma. Nenhum tipo de olhar diferente, nem uma palavra proferida… nada….

No fim do ano saí dessa escola, mas tive informações que elas superaram o distúrbio e estavam mesmo em salas de aula diferentes mais comunicativas e entrosadas no grupo, conversando com os colegas e com  a professora.

Estou agora, recentemente, com outro caso parecido em sala de aula, e fui pesquisar para descobrir como ajudar a minha pequena estudante que não fala. Os pais me contam que ela descreve em riqueza de detalhes tudo o que acontece na escola. As músicas cantadas, os nomes dos amigos, tudo o que fizeram no dia… Eu percebo que ela gostaria de falar e participar, a boca dela enche para falar, mas a palavra não sai… É um sofrimento, imaginem só! Ficar quatro horas em um lugar sem proferir uma só palavra de segunda a sexta. Já experimentou esse exercício? Eu não conseguiria… e nem sou tão “faladeira” assim…rsssss… Dia desses, foi um dos meus melhores dias desse ano. Ela conseguiu falar uma palavra das coisas que estávamos discutindo em sala, na roda de conversa de início de aula… quase chorei gente…kkkk… eu fiquei tão emocionada e feliz, pois todo o esforço que estava fazendo na semeadura eu mesma colhi…!!! Vamos ver se daqui para frente continua. Mas eu digo que o meu sonho é vê-la vindo me fazer “fofoca” dos coleguinhas…kkkk!!!

Pesquisei em algumas fontes e colocarei aqui como ajudar crianças com mutismo seletivo, fazendo com que ela sinta-se mais confortável e confiante em expressar-se com palavras:

Fonte 1: Trabalho de Mestrado de Célia Margarida da Silva Ribeiro – O mutismo seletivo e a ludoterapia/atividade lúdica

1.Tratamento comportamental • é dada ênfase aos fatores ambientais determinantes do comportamento. O comportamento é, em certa medida, o resultado de uma aprendizagem e pode, então, ser “desaprendido”. O tratamento consiste numa mudança do ambiente, treinando sistematicamente novos comportamentos, e identificando fatores que mantêm o comportamento de evitação.

2. Ludoterapia: Baseada no desenvolvimento, nas diferenças individuais e nas relações; • Avaliação compreensiva e desenvolvimento de um programa de intervenção desenhado para desafios únicos de uma determinada criança através de jogos e brincadeiras.

3. Intervenção psicodinâmica: Envolve interação verbal, jogos ou arte;  É dado ênfase à identificação do conflito inconsciente por detrás da ansiedade. Considera que quando o conflito gerador for resolvido, o comportamento deixará de existir.

4. Terapia familiar : tem em consideração a influência da família na criança, uma relação pais-criança não saudável leva a ansiedade. O alvo é a família e não só a criança isoladamente.

Fonte 2:Pedagogia ao pé da letra

A criança não deve ser forçada a falar;

Os pais devem elaborar inicialmente formas alternativas de comunicação através de símbolos, gestos ou cartões;

Não devem permitir que outras pessoas respondam pelo filho(a);

Solicitar gradualmente a exposição oral da criança;

Reforçar a criança todas as vezes que houver um aumento no comportamento verbal da criança. O tipo de reforço precisa ser de preferência da criança (elogios, abraços, doces preferidos…);

Encorajá-las sempre que possível, fazer pequenas solicitações ou cumprimentos a pessoas estranhas. Ex. ir comprar pão, comprar jornal…;

Evitar que seu filho seja o centro das atenções;

Identificar a compatibilidade com algum amigo para jogar e brincar com a criança algumas vezes dentro e fora de casa;

Utilizar a dessensibilização sistemática. Por exemplo, usar um reforço quando a criança sussurrar uma palavra e gradualmente aumentar a exposição até a criança dizer uma palavra em volume normal para algum estranho;

Planejar passeios em família fora de casa.

Permitir que a criança se comunique não-verbalmente no início, para depois utilizar a comunicação oral;

Não permitir que outros amigos respondam pelo aluno;

Solicitar gradualmente a exposição oral da criança;

Se possível colocar as mesas em forma de grupos;

Reforçar positivamente interações sociais faladas ou não;

O tipo de reforço precisa ser  significativo para a criança (elogios escritos, verbal…)

Reforçar qualquer tentativa de enfrentamento de situações interpessoais e ir ampliando progressivamente as exigências;

Encorajá-las sempre que possível, fazer pequenas solicitações ou cumprimentos a pessoas estranhas. Ex. pegar ou entregar material fora de sala.

Os professores devem sempre que possível tentar iniciar conversas fora da presença de outros alunos, devem tentar também, não colocar a criança como sendo o centro das atenções, pois isso aumenta a ansiedade da criança.

Acredito que através dessa visão e orientações já vamos dar um grande passo em relação a melhoria da comunicação e da qualidade de vida dessa criança.

Obrigada por estarem aqui comigo. Hoje foi dia de “Papo Giz”, mas que com certeza vai ajudar alguma mamãe, papai, vovô, titia, que tem alguma criança na família com esse tipo de caso.

(c) Manchester City Galleries; Supplied by The Public Catalogue Foundation

Fonte da imagem: Google imagens

Qualquer dúvida consulte um especialista, pois ele é o mais indicado para avaliar a criança.

Um beijo, e não se esqueça que para tudo tem jeito, o negócio é não se desesperar fazer devagar e sempre.

Feliz ano todo!

Renata

 

 

 

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